O Vínculo



No primeiro ano com Pedro em nossas vidas, ele falava do abrigo* relembrando os amigos e sua tia social, com quem conviveu por 3 anos, relatando acontecimentos com espontaneidade e carinho. 
Aproveitava-me de suas lembranças e perguntava a ele se desejaria fazer uma visita.
A resposta era sempre a mesma e com o olhar acanhado, nos dizia: “Podemos ir, mas vou só se puder ficar no seu colo. Promete?” 
Diante dessa resposta, notávamos que ele não estava preparado para ir, mesmo se sentindo saudoso. 

O que passou a nos deixar sobressaltados, foi o que mostrávamos ou oferecíamos ao Pedro, ele atestava conhecer, como: “já estive aqui (e citava o nome de sua cuidadora social), ela me trouxe quando eu tinha 1 aninho”. Ou: “Já comi esse prato antes de vcs me conhecerem".

Quando isso acontecia, perguntávamos se ele havia gostado daquele local ou daquela refeição, jamais reprovando suas fantasias.
Dissemos a ele, em alguns casos - e sendo verdade -, que era nossa 1a. vez naquele lugar, ou mesmo, a provar aquele alimento. Dado isso, dizia que estava brincando e assumia ser novidade para ele também. 

Quase 2 meses para completar 2 anos conosco (em Dezembro do ano passado), ele nos disse que gostaria de ir ao abrigo pois queria reencontrar seus amigos, seu quarto, seus brinquedos e, claro, sua tia social.
O sentimos pronto para visitar a instituição.

Compramos um presente para ela e partimos com ele muito ansioso. Ao chegar, pediu colo.
A sua cuidadora residente veio feliz nos receber e logo Pedro perguntou onde estava a sua cama. Ao ouví-la dizer que seu berço não se encontrava ali, ficou retraído e não aceitou ir ao colo dela. 

Foi um choque para ele saber que a casa em que morou - desde que chegou com 3 dias de vida -, passou a ser um asilo. Não houve a possibilidade de entrar e nem ver os brinquedos que antes foram dele, pois houve muitas mudanças por lá. 
Pedro percebeu que não pertence mais àquele lugar.

Reencontrou apenas um amigo remanescente com quem foi brincar na quadra e, assim, pôde realizar as transformações ocorridas no abrigo e em sua vida.
Passamos uma tarde inteira e este momento foi muito significativo para todos nós.
Ao sair, nos perguntou quando voltaríamos.
E, desde então, em nenhum momento fez comparações/alusões sobre algo ainda não explorado ou experimentado.

Para ele, foi como um corte do cordão umbilical e passou a se sentir mais seguro de nós, de sua família e de seu passado. 



















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E Aí Cheguei

Dar à Luz

E VOCÊ CHEGOU!

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O Portão

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Passo A Passo Da Adoção

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A Adaptação_P.1