O Acaso

Em meados do ano passado, com o carro em manutenção, a solução foi irmos - Pedro e eu - para a academia (aulas de judô e natação) de táxi - não tenho bike e não há transporte coletivo até a "gym".
Porém, ao solicitar um para o nosso retorno, nenhum táxi à vista, em nenhum dos aplicativos acionados.
Resolvemos voltar a pé para casa, o que daria uma caminhada de 16 quadras.
Muito papo gostoso rolando, muitos portões com cães para acariciar, calçadas com relevos para tropeçar…rsrs
Andando lado a lado, foi em uma esquina - a qual nunca mais me esquecerei - que Pedro, no meio de sua prosa, disse "Quando eu estava na barriga da tia..." (citou o nome de sua “tia social”, quem cuidou dele no abrigo).
Nem o deixei terminar a frase.
Expliquei a ele que não, ele nunca esteve na barriga dela, mas sim, da mulher que o gerou, a sua mãe biológica.
Ele, assustado, com os olhos arregalados, parou de frente à mim, e perguntou:
- Mas, mãe, não é você a minha mãe?
Agachei e olhei fundo nos seus olhos, e respondi:
- Claro que sou eu a sua mãe, mas você não saiu de dentro da minha barriga e, sim, da sua mãe que o gerou. Sou a sua mãe do coração!
Ainda ensimesmado, esclareci que ele nasceu no hospital e como ela não tinha condições de criá-lo, ele foi levado para o abrigo.
Não sei descrever como consegui com naturalidade expor algo que não é fácil dizer e nem ouvir.
Logo que me pus em pé, ele agarrou as minhas pernas e, assim, caminhamos por um tempinho, agarradinhos.
Até que um cachorrinho passou e paramos para novos afagos.
Essa tarde foi especial, inesquecível, esclarecedora.
Obrigada ao mecânico que não entregou meu carro a tempo e aos taxistas que não me atenderam.
Nada melhor que caminhar, olhar aos céus e somente agradecer!


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A Adaptação_P.1