A Adaptação_P.4
Logo nos primeiros 3 meses, percebemos a evolução de Pedro no dia a dia.
Vimos a sua espontaneidade aflorar, o seu olhar a focar nos olhos de outrem, as expressões contidas se transformando em segurança perante a família, os novos amigos e professores.
Porém, todos os dias antes de dormir, as mesmas perguntas eram feitas: - Você é minha mãe? Ou, para o Gustavo: - Você é meu pai?
- Sim! Você é o nosso filho tão desejado e muito, muito amado. Tivemos muita sorte de te encontrar! - respondíamos.
Ele, inúmeras vezes, reagiu: - Eu é que tive a sorte de encontrar vocês. Escolhi vocês para serem meus pais!
Ele não nos perguntava como uma dúvida, mas sim, para que afirmássemos - repetidamente - aquilo o que ele mais esperou encontrar em sua vida: um pai e uma mãe. E ser amado!
A criança aprende com as repetições, mas esta, é fascinante. Inflam os nossos corações!
Com 3 anos de vida, o tempo é diferente. Com essa idade não se faz ideia o quanto se passou. Os tempos se juntam, se cruzam e não há confusão, apenas não se sabe a dimensão.
Ele comentava, quase todos os dias, sobre o abrigo. Muitas vezes comparando suas experiências anteriores com o que acabara de conhecer.
Em algumas, observávamos que eram histórias fictícias ao nos dizer que já esteve naquele lugar quando morava no abrigo e quem o levou foi uma cuidadora social (citando o nome de quem ele mais gosta e conviveu). Sendo que era a primeira vez que visitava aquele local.
Sempre demonstramos interesse pelo que ele diz e, aos poucos, ele mesmo esclarecia que estava brincando, que nunca havia pisado ali.
Isso faz parte de todo processo. Tais imaginações, contrárias à realidade, são valorosas no processo de reconstrução do ego da criança.
Falar com respeito e compreensão sobre o seu passado é importante e gratificante. A clareza nos faz ficar ainda mais cúmplices. E nossas histórias se fundem, como o nosso amor!
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